terça-feira, 8 de setembro de 2009

Trechos escolhidos de Stray Birds Rabindranath Tagore









Trechos escolhidos de Stray Birds
( Pássaros perdidos )
Rabindranath Tagore
Uma tentativa de tradução da versão inglesa de 1916.
Tradutor amigo que preferiu assinar como Tradutor anônimo.
Pássaros perdidos do verão
vêm cantar em minha janela,
e seguem adiante voando.
E as folhas amareladas de outono,
que não sabem cantar,
flutuam e caem nela suspirando.
O mundo tira sua máscara de imensidão
e se mostra aos que amam.
Ele torna-se pequeno como uma canção,
como um beijo da eternidade.
A tua saudosa face abriga os meus sonhos
como chuva à noite.
Desde que sonhamos que éramos estranhos,
acordamos e descobrimos
o quanto somos próximos.
A tristeza se transforma em paz
em nossos corações
assim como o entardecer entre as árvores
silenciosas.
Os olhos que na noite choram
a ausência do sol, também perdem
a visão das estrelas.
Ouça, meu coração,
os sussurros do mundo.
São juras de amor por ti.
Os mistérios da criação são grandes
como a imensidão da noite.
As ilusões do conhecimento são fugazes
como a neblina da manhã.
O que você é você não vê.
O que você vê é a sua sombra.
Meu existir. Eis a constante
surpresa da vida.
Deus espera uma resposta
pelas flores que nos manda,
não pelo sol e a terra.
A luz que brinca entre as folhas verdes
como uma criança nua,
felizmente não sabe que o homem
mente.
Ó beleza, acha em ti mesma o amor,
não nas lisonjas do espelho.
As árvores surgem na minha janela
como as vozes do desejo
de uma terra silenciosa.
Cada nova manhã de Deus
é uma surpresa para Ele.
Respondendo aos chamados do mundo
a vida encontra sua riqueza.
Respondendo os chamados do amor
encontra seu valor.
O leito seco do rio não recebe
gratidão por seu passado.
Eu não posso dizer por que
este coração adoece em silêncio.
Por pequenas necessidades
que ele nunca pede,
ou conhece, ou lembra?...
O mundo atira-se sobre as cordas
do coração preguiçoso
tocando a música da tristeza.
Quem faz de suas armas deuses.
Quando suas armas vencem
derrota-se a si mesmo.
Deus descobre a si mesmo na criação.
Estrelas não se incomodam de
ser confundidas com
vaga-lumes.
Eu sou grato por não ser nenhuma
dessas engrenagens da máquina
do poder, mas sim um destes
seres vivos que elas esmagam.
Seu ídolo quebra-se na poeira
para provar que a poeira de Deus
é maior do que o seu ídolo.
Nossas vidas são dádivas.
Nós só a possuímos se a doamos.
Nós chegamos perto da grandeza
quando crescemos em humildade.
O pardal entristece-se pelo pavão
por causa do peso da sua cauda.
"Nunca tenha medo dos momentos"
(canta a voz da eternidade).
Toma do meu vinho
em minha própria taça, amigo,
pois ele perderá a grinalda
de espuma se vertido em outras.
A flor recém-nascida abre seu botão
e chora: "Querido mundo,
por favor não vire deserto".
Deus se aborrece com grandes reinos
mas nunca com pequenas flores.
Eu dou toda a minha água com alegria,
diz cantando a cachoeira,
não importa se um pouco já
mataria a tua sede.
Aonde se esconde a Fonte que jorra
todas estas flores numa incessante
erupção de êxtase?
O machado do lenhador implorou
por um cabo. E a árvore lhe deu.
A névoa, como o amor,
brinca sobre o coração das colinas
e revela belezas surpreendentes.
Não sabendo entender o mundo
afirmamos que ele nos engana.
Cada criança que chega neste mundo
traz uma mensagem:
Deus ainda não desistiu de nós.
Deixe que a vida seja bonita
como as flores do verão
e a morte como as folhas de outono.
Aquele que procura ser bom
bate no portão.
Aquele que ama encontra o portão aberto.
Aonde te escondes, ó fruto?
Aqui em teu coração, ó flor.
A bainha que protege a lâmina da
espada alegra-se por não ter corte.
Na escuridão o Uno parece uniforme,
na luz parece múltiplo.
O nascimento e morte das folhas
são os giros rápidos do redemoinho,
cujos círculos maiores movem-se lentos
entre as estrelas.
O poder disse para o mundo:
Sois meu!
E o mundo o aprisionou em um trono.
O amor disse para o mundo:
Sou teu.
E o mundo o deixou escolher aonde morar.
Aquietai-vos, meu coração.
Estas grandes árvores rezam.
O selo da morte
é o que dá valor à moeda da vida;
torna possível compará-la ao mais
precioso bem.
A nuvem colocou-se humildemente
a um canto no céu
e a manhã coroou-a com esplendor.
A terra em resposta aos insultos
oferece flores.
A música do verão passado voa
pelo outono a procura do seu ninho.
O eco imita sua origem, para provar
que ela é original.
Deus envergonha-se quando
nos vangloriamos de Seus favores.
Só vejo em meu caminho a própria
sombra,
se a minha luz está apagada.
O homem mistura-se à multidão barulhenta
para não ouvir a voz do seu silêncio.
As montanhas são como crianças que
gritando, abrem seus braços para
tocar as estrelas.
A estrada sente-se solitária
se os viajantes não a amam.
A força gabando-se do seu poder,
provoca um sorriso complacente
nas folhas amareladas que caem e
nas nuvens que se dispersam.
A noite, beijando o dia que se vai,
sussurra no seu ouvido:
"Eu sou a morte, sua mãe. Eu vim
para que você renasça".
O poder de Deus é melhor percebido
na brisa suave do que na tempestade.
É a noite que abre as flores em silêncio
enquanto o dia recebe os agradecimentos.
As gotas de chuva beijaram a terra
e sussurraram: " Somos teus saudosos
filhos, mãe,
voltando do espaço".
O canal gosta de pensar que o rio existe
apenas para servi-lo de água.
Não sei o que me angustia mais:
Se minha alma cativa tentando se libertar
ou a alma do mundo batendo na porta
do meu coração sem conseguir entrar.
O pensamento alimenta-se de
suas próprias palavras e cresce.
Humildemente escondida
nas montanhas distantes, a nuvem
enche de água
as taças do rio.
A água num vaso é cristalina;
a água no mar é escura.
A meia-verdade vem em palavras claras.
A verdade inteira vem misturada com
o silêncio.
Aquele que está muito ocupado
fazendo o bem, não tem tempo
de ser bom.
O alvo sussurra para a flecha:
"Tua liberdade é minha".
Mulher, tens a música da fonte da vida
em teu sorriso.
Uma mente muito lógica
é como uma faca de dois gumes.
Faz sangrar a mão de quem a usa.
"Eu perdi as minhas gotas de orvalho",
chorava a flor para o céu da manhã,
que havia perdido todas as estrelas.
Se elogios envergonham-me
é porque secretamente anseio por eles.
O melhor não vem só.
Ele vem acompanhado de tudo o mais.
A oração do fruto é preciosa.
A oração das flores é doce.
Mas deixa minha oração ser
como a oração das folhas,
na sombra de sua devoção humilde.
Deus espera de presente
as suas próprias flores
pelas mãos dos homens.
Quando o homem é um animal,
ele é o pior deles.
As nuvens escuras tornam-se
jóias do céu
quando beijadas pela luz.
Como o barco que tira sua graça
do vento e das águas, o meu coração
tira sua beleza do movimento
do mundo.
A morte pertence à vida, assim como
o nascimento.
O caminhar está no avançar do pé,
assim como no seu retorno.
Eu cheguei até você como um estranho,
eu morei na sua casa como um hóspede,
eu te deixei como um amigo,
meu mundo.
Eu te vi como uma criança semi-acordada
vê a sua mãe na penumbra do quarto,
sorri e então adormece em paz.
Leva o meu coração ao centro do
teu silêncio, para que ele se alimente
das tuas canções.
A verdade faz nascer a última palavra.
E a última palavra faz nascer
a próxima.
A tua luz que sorri sobre os dias
sombrios do inverno de meu coração,
já advinha as flores da sua primavera.
Em Seu amor Deus beija o finito,
e o homem o infinito.
Não me deixes envergonhar-te, Pai.
Tu que depositaste tua glória nesta criança.
Nós saberemos algum dia que a morte
não roubará aquilo que a alma ganhou.
Pois já é parte dela.
Eu escalei o pico da montanha e
não achei abrigo na fama,
ou nas alturas estéreis.
Leve-me, meu Guia, antes que anoiteça
para o vale. Onde a colheita
da vida amadurece em sabedoria.
Deixe que estas sejam as minhas
últimas palavras "eu confio no Teu Amor".

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