quinta-feira, 3 de julho de 2025

 


Aprende com a sabedoria

No silêncio da noite, a sabedoria entrou no meu  quarto e pôs-se de pé frente à minha cama. 
Ela me olhou como uma mãe amorosa  enxugou-me as lágrimas, e disse: 
Ouvi os lamentos de tua alma,  vim aqui confortar-te.
Abre-me teu coração e eu o encherei de luz. 
Pergunta e eu te indicarei o caminho da verdade. Aprende com a sabedoria. 
Aquiesci à sua ordem, e indaguei: 
quem sou eu sabedoria, e como vim parar neste lugar de horrores?
O que são estas poderosas esperanças, estas montanhas de livros e estas figuras estranhas?
O que significam estes pensamentos que vão e vem como revoadas de pombos?
O que significam estas palavras que compusemos com desejo e escrevemos com alegria?
O que significam estas conclusões tristes e alegres que abraçam minha  alma e envolvem meu coração? 
Que olhos são estes que se fixam em mim e penetram no mais íntimo recôndito de minha alma, e mesmo assim desdenham da minha dor?
O que significam essas vozes que lamentam o esvanecer de meus dias, e cantam louvores à minha infância? 
Quem é este jovem que zomba de minhas vontades e escarnece de meus sentimentos,  esquecendo os fatos de ontem, contentando-se  com a pequenez de hoje, e prevenindo-se  contra a vagarosa aproximação do amanhã?
Que significa este mundo medonho que me agita e para que a terra desconhecida me arrasta?
O que significa esta terra que escancara suas mandíbulas para engolir nossos corpos e prepara uma cova perpétua para a avareza? 
Quem é esse homem que se contenta com os azares da fortuna e anseia por um beijo dos lábios da vida, enquanto a morte lhe bate a face?
Quem é esse homem que compra um momento de prazer por um ano de arrependimento e se  põe a dormir, enquanto os sonhos o chamam? 
Quem é esse homem que nada nas ondas da ignorância em direção ao golfo da escuridão? 
Diga-me sabedoria, quê significam todas essas coisas? 
A sabedoria descerrou os lábios e falou: Tu, homem, desejarias ver o mundo com os olhos de Deus e quererias penetrar nos segredos do porvir, através do pensamento humano.
Tal é o fruto da ignorância.
Vai ao campo e vê como as abelhas voam sobre sua presa.
Vai à casa de teu vizinho e vê como a criança se encanta com a luz do fogo enquanto a mãe está ocupada com seus afazeres. 
Sê como a abelha, e não desperdiça teus dias de primavera ao olhar os feitos das águias. 
Sê como a criança, que se alegra  com a luz do fogo e não incomoda sua mãe.
Tudo que viste era, e ainda é teu.
Os muitos livros e as estranhas figuras e os adoráveis pensamentos que te rodeiam são fantasmas dos espíritos que existiram antes de ti. 
As palavras que teus lábios pronunciam são elos da corrente que te une a teus semelhantes. 
As conclusões tristes e alegres são as sementes espargidas pelo passado no campo de tua alma, para serem colhidas pelo futuro.
O jovem que zomba de tuas vontades é aquele que abrirá a porta do teu coração para que a luz entre. 
A terra que escancara a boca para engolir o homem e suas coisas é a libertadora de nossas almas da escravidão de nossos corpos. 
O mundo que se move contigo é teu coração, que é o próprio mundo. 
E o homem que supões tão pequeno e ignorante, é o mensageiro de Deus que veio aprender a alegria da vida através da tristeza e extrair sabedoria da ignorância. 
Assim falou a sabedoria; depois pousou a mão sobre minha testa ardente, afirmando:
Prossegue, não te detenhas, seguir adiante é mover-se em direção à perfeição.
Prossegue, e não temas os espinhos ou as pedras pontiagudas do caminho da vida.

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