quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Carta aos Mortos - divagações


Carta aos Mortos

Amigos, nada mudou 
em essência. 
Os salários mal dão para os gastos, 
as guerras não terminaram 
e há vírus novos e terríveis, 
embora o avanço da medicina. 
Volta e meia um vizinho 
tomba morto por questão de amor. 
Há filmes interessantes, é verdade, 
e como sempre, mulheres portentosas 
nos seduzem com suas bocas e pernas, 
mas em matéria de amor 
não inventamos nenhuma posição nova. 
Alguns cosmonautas ficam no espaço 
seis meses ou mais, testando a engrenagem 
e a solidão. 
Em cada olimpíada há récordes previstos 
e nos países, avanços e recuos sociais. 
Mas nenhum pássaro mudou seu canto 
com a modernidade. 

Reencenamos as mesmas tragédias gregas, 
relemos o Quixote, e a primavera 
chega pontualmente cada ano. 

Alguns hábitos, rios e florestas 
se perderam. 
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada 
ou toma a fresca da tarde, 
mas temos máquinas velocíssimas 
que nos dispensam de pensar. 

Sobre o desaparecimento dos dinossauros 
e a formação das galáxias 
não avançamos nada. 
Roupas vão e voltam com as modas. 
Governos fortes caem, outros se levantam, 
países se dividem 
e as formigas e abelhas continuam 
fiéis ao seu trabalho. 

Nada mudou em essência. 

Cantamos parabéns nas festas, 
discutimos futebol na esquina 
morremos em estúpidos desastres 
e volta e meia 
um de nós olha o céu quando estrelado 
com o mesmo pasmo das cavernas. 
E cada geração , insolente, 
continua a achar 
que vive no ápice da história.


Affonso Romano de Sant'Anna 


Hoje foi assim, nublado, tenso, prenúncio de tempestade.
Tem alguns dias que ando sentindo o desconforto da tempestade chegando.
Tão conhecida já. Um não sei que de insatisfação com tudo ... já sei. É o prenúncio. Hoje fui andar ai conforme me foi indicado. Fazer sozinha o que fazíamos juntos. Ainda não gosto de ir. Pequenas coisas ... tão insignificantes e são essas que deixam marcas, deixam saudade. 

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