O Segredo
Curvei-me ante a Morte
E disse-lhe “Bom-dia,
Não ficarás comigo
Para uma dança?“
Ela sorriu forçado e se curvou,
Por sua vez, em longa deferência;
E pensei: ela não despreza
Meu convite.
Mas quando foi hora
De iniciar a dança
Ela não assumiu seu posto;
Apenas ficou olhando.
“Por que apenas olhas,
Parceira minha”, disse eu
“Vem! pois tentarei
Uma valsa contigo.”
Ela me olhou
Por longo tempo
E então disse sorrindo:
“Danço contigo
Todo o tempo
Pois estou em ti,
Sempre e sempre,
Minha fibra está lá.”
“Quê? Eu tão cheia
De sangue e vida,
Em meu coração não bate
Nem esforço nem dor!”
“Mesmo assim”,
Disse-me a Morte,
“Eu estou em ti.
Vê teu interior!”
Senti, ao observar
Minhas mãos,
Os ossos nus
Dentro da carne,
E todo meu ser
Era pleno de ossos,
Minha caveira como pedra
Atrás de meu rosto vivo.
“Sou um esqueleto”
Disse-lhe eu,
“Muito antes de morrer
Tu estás em mim!”
Ela sorriu de novo,
Um sorriso gentil,
“Espera mais um pouco
E eu chegarei
“E te chamarei
Para mim, para o amor, para a vida
Para longe da luta,
Para os campos da paz;
“Lá colherás
Margaridas
Nos campos raros
Cada flor uma estrela;
“Não terás angústias
Nem pesar nem lágrimas;
Eu te prometo o sono
E o descanso afinal;
“Sê paciente mais um pouco,
Vê como cada dia eu cresço
Em ti, mais profundo meu domínio
Sobre tua vida.”
O esqueleto
Brilha como uma luz
Através da pele tão fina,
Até que enfim
Ele consome
A gaiola, e livre
Virás a mim,
Mas não agora.
Amatu'l-Bahá Ruhíyyih Khanum
18 de janeiro de 1958
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