Ela me olhou como uma mãe amorosa enxugou-me as lágrimas, e disse:
Ouvi os lamentos de tua alma, vim aqui confortar-te.
Abre-me teu coração e eu o encherei de luz.
Pergunta e eu te indicarei o caminho da verdade. Aprende com a sabedoria.
Aquiesci à sua ordem, e indaguei:
O que são estas poderosas esperanças, estas montanhas de livros e estas figuras estranhas?
O que significam estes pensamentos que vão e vem como revoadas de pombos?
O que significam estas palavras que compusemos com desejo e escrevemos com alegria?
O que significam estas conclusões tristes e alegres que abraçam minha alma e envolvem meu coração?
Que olhos são estes que se fixam em mim e penetram no mais íntimo recôndito de minha alma, e mesmo assim desdenham da minha dor?
O que significam essas vozes que lamentam o esvanecer de meus dias, e cantam louvores à minha infância?
Quem é este jovem que zomba de minhas vontades e escarnece de meus sentimentos, esquecendo os fatos de ontem, contentando-se com a pequenez de hoje, e prevenindo-se contra a vagarosa aproximação do amanhã?
Que significa este mundo medonho que me agita e para que a terra desconhecida me arrasta?
O que significa esta terra que escancara suas mandíbulas para engolir nossos corpos e prepara uma cova perpétua para a avareza?
Quem é esse homem que se contenta com os azares da fortuna e anseia por um beijo dos lábios da vida, enquanto a morte lhe bate a face?
Quem é esse homem que compra um momento de prazer por um ano de arrependimento e se põe a dormir, enquanto os sonhos o chamam?
Quem é esse homem que nada nas ondas da ignorância em direção ao golfo da escuridão?
Diga-me sabedoria, quê significam todas essas coisas?
A sabedoria descerrou os lábios e falou: Tu, homem, desejarias ver o mundo com os olhos de Deus e quererias penetrar nos segredos do porvir, através do pensamento humano.
Tal é o fruto da ignorância.
Vai ao campo e vê como as abelhas voam sobre sua presa.
Vai à casa de teu vizinho e vê como a criança se encanta com a luz do fogo enquanto a mãe está ocupada com seus afazeres.
Sê como a abelha, e não desperdiça teus dias de primavera ao olhar os feitos das águias.
Sê como a criança, que se alegra com a luz do fogo e não incomoda sua mãe.
Tudo que viste era, e ainda é teu.
Os muitos livros e as estranhas figuras e os adoráveis pensamentos que te rodeiam são fantasmas dos espíritos que existiram antes de ti.
As palavras que teus lábios pronunciam são elos da corrente que te une a teus semelhantes.
As conclusões tristes e alegres são as sementes espargidas pelo passado no campo de tua alma, para serem colhidas pelo futuro.
O jovem que zomba de tuas vontades é aquele que abrirá a porta do teu coração para que a luz entre.
A terra que escancara a boca para engolir o homem e suas coisas é a libertadora de nossas almas da escravidão de nossos corpos.
O mundo que se move contigo é teu coração, que é o próprio mundo.
E o homem que supões tão pequeno e ignorante, é o mensageiro de Deus que veio aprender a alegria da vida através da tristeza e extrair sabedoria da ignorância.
Assim falou a sabedoria; depois pousou a mão sobre minha testa ardente, afirmando:
Prossegue, não te detenhas, seguir adiante é mover-se em direção à perfeição.
Prossegue, e não temas os espinhos ou as pedras pontiagudas do caminho da vida.